O rotavírus é um vírus causador de diarreia de grande impacto na criança, sendo uma das causas mais importantes de diarreia grave em menores de 5anos no mundo todo. No ano de 2006, o Brasil introduziu a vacina monovalente no calendário básico de vacinação. A segurança da vacina está bem documentada.
Recentemente, nas mídias sociais começou a ser levantada a correlação vacina de rotavírus e surgimento de APLV. Mediante o volume que esta afirmação causou, as Sociedades Brasileiras de Alergia e Imunologia (ASBAI), Imunizações (SBIm) e Pediatria (SBP) se pronunciaram a este respeito.
Então vamos lá!
Primeiro: qual o impacto da diarreia ocasionada pelo rotavírus?
Segundo a OMS, o rotavírus ainda é responsável por 600 mil mortes ano. Desde 2009 a OMS criou uma rede mundial de vigilância a este agente que pode tanto causar morte quanto agravos de saúde ao prolongar o tempo de diarreia para mais de 14 dias. Um dos “braços” dessa rede de vigilância é a prevenção frente a vacinação, que é executada em 89 países em todos os continentes
Desde a introdução da vacina no Brasil, houve um declínio da mortalidade por diarreia em 22% e uma redução de 40.000 internações ano em menores de 5anos.
Logo, o país teve benefícios claros com a introdução da vacina no calendário vacinal.
Segundo: sobre a vacina
No Brasil existem duas vacinas disponíveis:
Vacina monovalente (1 tipo de rotavírus atenuado), oferecida pelo PNI, com duas doses
Vacina pentavalente (5 tipos de rotavírus atenuados), oferecida pela rede privada, com três doses.
O esquema vacinal começa a ser dado a partir de 6semanas de vida (a primeira dose tem limite máximo para iniciar com 3m e 15dias) e deve ser terminado no máximo com 7meses e 29dias.
Estudos exaustivos com ambas (monovalente e pentavalente) foram feitos e detectaram como efeitos adversos da vacina: irritabilidade, febre, vômitos, diarreia. Todos estes sintomas costumam ser autolimitados.
O sangramento (hematoquezia) associado à vacina é um efeito adverso raro. (Em um estudo americano com 1400 pacientes, 33 tiveram sangramento, mas somente 14 foram atribuídos à vacina).
Um advento de sangramento na primeira dose, em um paciente muito bem não contraindica a segunda dose.
Terceiro: há esse fator causal entre a vacina e o APLV?
Não há estudos que demonstrem aumento ou desencadeamento de APLV pela vacina de rotavírus. A única indicação é de que paciente que já tenha APLV e que esteja com doença ativa (diarreia moderada ou grave, vômitos), adiem a aplicação até recuperação geral.
Estudos acreditam que esta correlação veio do fato da vacina ser aplicada em idades onde a incidência de APLV já é maior.
Pacientes alérgicos a algum componente vacinal ou a látex, não devem receber a vacina.
Qual o posicionamento atual para a execução da vacina então:
A Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde (MS) sobre o assunto: “Tem circulado nas redes sociais informações falsas sobre a vacina rotavírus humano (VORH) atenuada estar desencadeando alergia às proteínas do leite de vaca nas crianças vacinadas. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) endossa o posicionamento do Ministério da Saúde brasileiro ao esclarecer que essa vacina não contém a proteína do leite de vaca em sua composição. Tampouco há evidências científicas do desenvolvimento de alergia ao leite desse animal após a administração do produto.
Logo, não deixem de fazer a vacina do rotavírus pensando em proteger seu bebê do APLV, porque isso não é verdadeiro.
Um abraço, Dra. Mirella
Fonte: Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 1. N° 1, 2017
Calendário de vacina
Aqui está a indicação de vacinação do 0 aos 10 anos referente ao calendário vacinal 2020 - 2021 da Sociedade Brasileira de Imunização