APLV ou Alergia à Proteína do Leite de Vaca!
De todas as doenças que trato no consultório, talvez esta seja a que mais traga uma “certa confusão” de conceitos para pais e cuidadores. Então vamos tentar elucidar algumas dúvidas comuns em consultório!
Como há muita informação leiga e muitas vezes não verdadeira sobre APLV, tudo que será abordado aqui foi retirado de base científica, tendo como rumo o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar da ASBAI 2018.
Vamos lá:
O que é alergia alimentar?
Alergia alimentar é classificada como uma doença consequente a uma resposta imunológica anômala a um alimento. Ou seja, o corpo interpreta a proteína como um “vilão” e entende que tem que ataca-lo! Mas lembre-se que nem tudo que reluz é ouro! Ou seja, nem todos os sintomas adversos a comida são alergia. Eles podem ser: intoxicações (como por exemplo quando come uma comida contaminada), reações a substâncias específicas (como acontece com a tiramina dos queijos que podem dar enxaqueca), reação osmótica dos carboidratos não digeridos (como na intolerância à lactose). Então você pode precisar de ajuda profissional para diferenciar qual é a reação do seu filho!
Então meu filho tem APLV ou intolerância à lactose? Tem diferença?
Você já deve ter ouvido coisas parecidas com: alergia à lactose, intolerância ao leite, intolerância à proteína entre outros. É importante você saber o nome da doença, pois se errar no nome, vai errar no tratamento também. Seu filho pode ter os seguintes problemas com leite, a saber:
Intolerância à lactose, Alergia à proteína do leite de Vaca e outros problemas mais raros como Galactosemia (que não vai ser discutido aqui).
E não é só no nome que se encontra as diferenças!
Intolerância à lactose é a dificuldade que o organismo tem de digerir o açúcar do leite (lactose) por falta de uma enzima chamada lactase. Esta falta pode ser secundária a uma “destruição” como na infecção intestinal, na doença celíaca etc. ou por uma não produção determinada geneticamente. Comumente acomete crianças maiores, pois as menores nascem com muita enzima para que possam sobreviver predominantemente com leite na primeira infância. O sintoma é predominantemente de dor, diarreia, náusea e vômitos pós ingesta de lactose. Os sintomas são dose dependente, ou seja, se comer bastante vai ter sintoma e se comer um pouquinho não. É só uma falta de digestão, logo não há todo o desequilíbrio imunológico que a alergia causa. A mãe que amamenta pode manter dieta normal.
Já a Alergia à proteína do leite é uma resposta imunomediada à proteína do leite. O organismo não interpreta este alimento como alimento e sim como um agressor e produz anticorpos para se defender deste agressor. É comum em bebês que tem a imunidade muito imatura e propensa a esses “erros”. Os sintomas podem começar imediatamente à exposição ou até dias após. Os sintomas são variados: dor abdominal, vômitos, sangue nas fezes, diarreia, constipação, manchas no corpo, proctite entre outros. Os sintomas independem de dose no caso dos IgEs mediados. Um pouquinho faz mal! A criança não pode ingerir nada que contenha proteína do leite e a mãe que amamenta também necessita entrar em dieta isenta da proteína do leite.
Acho que meu filho não tem APLV porque ele nunca sangrou, só tem diarreia! E agora?
Ouço muito, muito este tipo de frase. Mas saiba que para ser APLV não precisa sangrar e não precisa ter um montão de sintomas!
Então vamos lá, vamos entender os tipos de APLV!
Seu filho pode ter, dependendo do tipo de imunidade envolvida, 3 tipos de classificações:
Reações Mediadas por IgE ou conhecidas como reação de hipersensibilidade imediata. Surgem logo após a exposição do alimento e se apresentam da seguinte forma: reações cutâneas (urticária e angioedema ou edema de partes como por exemplo lábios), respiratórias (chiado de peito), sistêmicas (choque anafilático), gastrointestinais (toma leite e incha lábio, língua, vomita)
Reações Não IgE Mediadas que não são imediatas. Aqui estão as proctite, colite, enterocolite (que são as inflamações intestinais que cursam com dor, com diarreia, com sangue nas fezes – não necessariamente tudo junto)
Reações Mistas que é a soma dos dois mecanismos: o IgE e o não IgE mediado! Aqui temos as manifestações conhecidas como esofagite eosinofílica, a gastroenterite eosinofílica, a dermatite atópica e a asma!
Então viram que o caminho é longo, principalmente em um bebê? Primeiro o médico precisa saber se o que seu filho tem pode ser algo que não seja fisiológico (como a cólica do lactente). Depois ele tem que diferenciar que tipo de reação pode ter, se é ou não alérgica. E por último, dentro da alergia, que tipo de alergia é.
Então esse não é um caminho para você trilhar sozinho!
Um abraço, Dra. Mirella
Fonte: Consenso Brasileiro de Alergia Alimentar, ASBAI 2018