O início da alimentação complementar na infância sempre gera dúvidas nos pais. Isso porque há sempre muita informação, muitas delas leigas e muitas vezes não condizente com nossa realidade atual. Vamos então entender um pouco mais o que atualmente a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) recomendam.
O que é a alimentação complementar?
Aos seis meses, o leite materno exclusivo não consegue mais fornecer as calorias e nutrientes necessários para a próxima fase de crescimento do bebê. Há então a necessidade da introdução alimentar com sua diversidade nutricional.
Entende -se como alimentação complementar aquela feita pelas papas de frutas e posteriormente pelas papas de almoço e janta. Viram que não se chama mais papa salgada? Pois é! Papas de almoço e de janta não levam sal até os 2anos de idade.
Mas quando começar?
Muitas vezes os pais chegam com a informação de que a introdução começa cedinho, com 4 meses. Isso mudou no ano de 2002. Mudou porque hoje se conhece mais da maturidade dos órgãos (eles não nascem maduros, e se não estão maduros, não funcionam bem) e mudou porque a nossa alimentação também mudou (tem mais açúcar, mais sal, mais embutido, etc.)
Logo, a OMS e a SBP colocam que o bebê está maduro e apto a iniciar a dieta complementar aos 6 meses de idade, idade essa em que o paciente já apresenta os seguintes marcos de desenvolvimento: senta, sustenta tronco-cabeça, segura objetos.
E como devo começar a alimentação alimentar?
Há hoje as seguintes formas de iniciar a dieta complementar:
1 - Método tradicional, na forma de purês
2 - BLW (Baby Led Weaning)
3 – BLISS (Baby Led Introduction to Solids)
Hoje a OMS e a SPB seguem orientando o método tradicional, baseado em papas amassadas na forma de purês, introduzidas aos 6meses e indo até os 12meses.
Mas em 2008, na Inglaterra um método novo conhecido como BLW foi introduzido e tem ganhado popularidade no Brasil.
Mas o que é BLW?
O termo BLW (baby Led Weaning) significa em português desmame guiado pelo bebê. Foi desenvolvido pela enfermeira Gill Rapley e já foi traduzido para média de 15 países. Ela se baseia no pressuposto que o bebê já nasce com o mecanismo fome saciedade bem desenvolvido e pode escolher o volume de alimentação da qual precisa. E se baseia no fato de que bebês de 6 a 8 meses já tem bom tônus e motricidade fina para poder pegar e levar alimentos à boca.
No BLW a criança começa a ingerir alimentos da família na forma de finger foods (palitos, tiras, bastões).
Quais os aspectos do método ainda discutidos pela comunidade científica?
1. BLW realmente tem algum benefício?
· Estudos iniciais relatam que o bebê que usa o método desenvolve mais motricidade fina.
· Fazendo BLW o bebê vai ser mais saudável porque vai consumir mais frutas e verduras e vai comer só o que tiver fome. Aqui alguns conflitos de estudos: tem estudos que dizem que o bebê do BLW costuma estar no peso ou abaixo do peso; tem estudos que dizem que o da introdução alimentar tradicional com purês costuma ser no peso ou acima do peso e tem estudos que mostram que não tem diferença. O que os estudos todos argumentam e se questionam é que as famílias que fazem BLW são famílias que tiveram mais acesso à informação (Tentem procurar nas redes sociais. BLW tem muita informação e introdução tradicional quase nada). Com informação a mais, essas famílias podem selecionar mais a qualidade de alimentos. Os estudos também dizem que poder decidir quanto comer e parar quando quiser é melhor protetor de obesidade do que dar um prato de comida e ter a pressão da família para “raspar o prato”. E os estudos mostram também que as famílias que fazem BLW são menos preocupadas com volume e mais preocupadas com qualidade.
Então os benefícios aparentes existem: melhora motricidade, treina saciedade, expõe a alimentação de qualidade.
2. BLW tem algo de preocupante?
As dúvidas em relação ao método são as seguintes:
Come o suficiente para crescer?
A primeira dúvida da sociedade científica é se a ingesta de macronutrientes e micronutrientes seria suficiente, já que muitos estudos demonstram que no quesito alimentos com ferro os bebês do BLW começam a ingerir com um atraso de 5 a 6 semanas. As preocupações são porque há estudos demonstrando risco de não atingir as calorias e ter baixa ingesta de zinco, ferro, vitamina B12, vitamina C, fibras e cálcio.
Tem maior risco de engasgo?
Aqui é uma dúvida. Muitos estudos conflitantes e muitos apontam que sim. Em um estudo feito com pais que fazem BLW, 30% informou acontecimento de engasgo no início do método. Mas quando se foi analisar o que realmente, não ficou muito claro se era engasgo ou se era reflexo de gag ou gagging (que é jogar alimentos maiores para a frente para remastigar)
Atualmente, essa dúvida de se há maior risco de engasgo não está bem respondida. Cenas para o próximo capítulo.
E o que é o BLISS?
BLISS (baby led introduction to solids) foi uma modificação do BLW, frente as dúvidas engasgos e pouca ingesta de nutrientes. Aqui se fez uma modificação para reduzir os riscos do BLW. Quais as modificações no BLISS:
Cada alimentação passa a ser preparada com alimentos de maior biodisponibilidade de alimentos. Há cuidado na escolha para atingir calorias e micronutrientes
Os pais vão experimentar antes os bastões e ver se o bolo alimentar formado na boca não é grande e massudo e se é fácil de engolir. Se for, esse bastão de comida a criança pode comer
Há uma lista de alimentos que são potenciais para engasgos que os pais vão evitar de oferecer
Há proibição de alimentos redondos e na forma de moedas.
Puxa, era para simplificar e parece que complicou? E agora o que fazer?
O objetivo desta publicação é somente informar. Para que você conheça os métodos para na consulta discutir com seu pediatra.
Há ainda muitas dúvidas científicas quando se compara o método tradicional com o BLW. Desde a inserção em 2008, o método BLW já teve livros publicados em mais de 15 países, mas no âmbito científico ainda falta.
Enquanto o método não tiver todas as dúvidas cientificamente respondidas, a SBP orienta a introdução clássica num âmbito geral. Mas orienta que cada caso seja analisado individualmente.
Não comece esse passo tão importante da vida com dúvidas e com insegurança e nem com informações que não sejam 100% confiáveis.
Converse com seu médico. Juntos poderão oferecer o melhor ao seu bebê.
Um abraço, Dra. Mirella
Fonte: Manual BLW da SBP