A pandemia obesidade e as doenças relacionadas.

foto: site ecodebate

foto: site ecodebate

Qual a definição de obesidade?

Acúmulo de gordura corporal em tal monta que leva à prejuízos na saúde do indivíduo.

Por que é tão difícil emagrecer?

Porque a obesidade não é tão simples como uma amigdalite bacteriana por exemplo. Na amigdalite bacteriana basta tratar a bactéria. É um fator só envolvido. Mas na obesidade, o quadro etiológico é multifatorial: tem fatores genéticos, metabólicos, nutricionais, psicossociais, ambientais. Logo, são muitas frentes para serem “atacadas”

É preocupante?

Muito. A OMS reconhece a obesidade como a maior epidemia de saúde pública mundial. Isso mesmo: está aumentando em países desenvolvidos e em países em desenvolvimento. Em ambos,acomete mais pessoas de baixa renda.

Em 2010 a OMS se pronunciou com o seguinte panorama: se nada for feito para “atacar” a pandemia de obesidade, em 2025 serão 2,3 bilhões de adultos com sobrepeso e 700 milhões de adultos com sobrepeso

Por que aumentou?

Porque estamos passando pelo processo chamado transição nutricional.

Para haver esta inversão vários fatores contribuíram:

1.Genética familiar associada à obesidade (pais também com obesidade). Se os dois pais são obesos há uma chance de 80% da criança também ser obesa. Essa chance cai para 40% se somente um dos pais for obeso e cai para 7% se nenhum deles for.

2. Hábito alimentar associado a grande consumo de açúcar e gordura (que já estão presentes no primeiro ano em hábitos que parecem tão inocentes como o suquinho de laranja, o pudim, a mucilagem e o açúcar na mamadeira)

3. Pouca atividade física

4. Sedentarismo e grande uso de TV, videogames e computadores

5. Aumento das porções servidas em restaurantes (estudos mostram que o tamanho das porções de batatas fritas na década de 50 é um terço do tamanho de 2001)

6. Marketing da indústria e associação de comidas com brinquedos

7. Melhor poder aquisitivo dos pais

8. Desmame precoce 

Qual a prevalência no Brasil?

A ABESO 2016 registrou que 50% dos brasileiros está acima do peso.

Ainda em 2016 a OMS declarou que 41milhões de crianças com menos de 5anos estão com sobrepeso ou obesas.

Entre 2008 e 2009, o sobrepeso foi diagnosticado em 33,5% e a obesidade em 14,3% das crianças brasileiras entre cinco e nove anos de idade (POF).

 Nos adolescentes de dez a 19 anos, a prevalência de sobrepeso e obesidade foi de 20,5% e 4,9%, respectivamente.

Quais doenças associados à obesidade infantil?

São mais de 200 alterações no corpo que a obesidade pode trazer em adultos e crianças. E todos os órgãos podem ser acometidos. Vamos aos exemplos:

Sistema endócrino: intolerância à glicose (pré diabetes), Diabetes, hiperandrogenismo, síndrome dos ovários policísticos (hirsutismo ou excesso de pelos, irregularidades menstruais, acantose nigricans, acne e seborreia), risco de alterações menstruais (tem meninas  que menstruam antes de 10anos e outras entram em amenorreia).

Sistema renal: nefropatia diabética, nefroesclerose hipertensiva, esclerose focal ou segmentar, litíase renal, incontinência urinária.

Sistema cardiovascular:  HAS (pressão alta). Uma criança obesa tem 3x mais chance de ter pressão alta do que aquela da mesma idade e sexo que está com peso normal. 50% das crianças obesas já tem pressão alta. Além disso podem apresentar: aumento do ventrículo E, formação de placa de ateroma no coração e nas carótidas.

Sistema Gastrointestinal:  no fígado pode haver uma infiltração gordurosa com ou sem inflamação (hepatite). Não se sabe a evolução desta infiltração na infância, mas já há registro de evolução para fibrose, cirrose e insuficiência hepática.  Também se observa mais constipação, doença do refluxo, colelitíase (cálculo de vesícula)

Sistema pulmonar: asma mesmo sem atopia associada. Parece que o obeso por ser “inflamado” também tem mais inflamação brônquica. Além da asma, o obeso pode ter apneia do sono e hipoventilação causada pela restrição ventilatória causada pela obesidade.

Alterações ortopédicas: mais fraturas, mais dores que as crianças com peso normal. Há também risco de tíbia vara (que é o progressivo encurvamento das pernas) e o risco de epifisiólise de cabeça do fêmur (que é o deslocamento da cabeça do fêmur pelo peso)

Alterações dermatológicas: estrias, furunculoses, acnes, hidraadenite supurativas (cistos inflamados em axilas e virilhas), acantose nigricans

Alterações psicológicas: ansiedade, depressão, alteração na auto estima, alienação social.

Enfim, quando se fala de obesidade, está se falando de uma doença que arrasta consigo várias outras! Precisamos agir para reverter este quadro alarmante!

Um abraço, Dra. Mirella

Fonte: Obesidade na infância e adolescência: Manual de Orientação da SBP, 2019

Pele com acantose nigricans

Esteatose Hepática

Estrias

Placa de ateroma (gordura) em vasos

Tíbia Vara (doença de Blount)

Acne e Hirsutismo da SOP

Compart. página