Constipação funcional em Crianças
O que define constipação
Constipação é uma demora ou uma dificuldade no ato de evacuar. Este problema deve durar mais de 2 semanas para ser chamado de constipação. Pode haver com a constipação perda de apetite, saciedade precoce, irritabilidade (daí surgiu o nome enfezado). Estes sintomas costumam desaparecer depois de evacuar.
O que um constipado pode apresentar
1. Evacuações em frequência menor do que 3x na semana
2. Fezes ressecadas e duras
3. Escape de fezes a partir do momento que já deveria ser continente (exemplo: fezes na calcinha ou cueca);
4. Dor ou dificuldade para evacuar;
5. História de comportamento retentor (tentar trancar);
6. Fezes volumosas que obstruem o vaso.
Viu, mesmo que a criança faça cocô todo dia ainda assim pode ser constipada.
Um breve histórico
As primeiras descrições de constipação datam de XVI antes de Cristo. Hoje as constipações são responsáveis por 25% das consultas dos gastroenterologistas pediátricos. Na grande maioria dos casos, a constipação pode ser classificada como funcional.
Mas o que é constipação funcional?
A constipação funcional é aquela que não tem doença de intestino associada. Geralmente a criança passa por uma dor ao defecar e por medo de passar a dor novamente ela começa a “trancar” as fezes. Quando a vontade de evacuar vem, ela começa a fazer de tudo para evitar a evacuação. Umas andam nas pontas dos pés, outras se escondem, outras apertam a musculatura de ânus e coxas para “puxar” o coco de volta e não o deixar sair.
Mas por que motivo uma criança começa a ter constipação funcional?
A constipação funcional pode acontecer por várias situações: quando a criança começa a passar pelo desfralde; quando há uma mudança na rotina ou na alimentação; quando adia a evacuação por estar “ocupada” em uma atividade; quando adia a evacuação por não querer usar o banheiro que não seja o de casa; durante um período de doença. Enfim, uma história médica bem detalhada pode identificar o motivo que pode ter sido o inicial.
Então significa que ele não faz de propósito ou por preguiça?
Quando falamos em constipação funcional, devemos entender que chega a um ponto que o reto está tão acumulado de fezes e tão dilatado, que a criança perde a capacidade de sentir a vontade de evacuar. E dependendo do tempo de constipação, a criança pode inclusive deixar escapar coco na cueca ou na calcinha sem sentir. Então evite punir e repreender.
Quais os sinais de que esta constipação não é funcional e pode ter uma doença que a cause?
Para se chegar a esta informação o médico deve fazer anamnese e exame físico bem detalhado, em busca de sinais de alerta.
São sinais de alerta:
1. Atraso na eliminação do mecônio ao nascer (coco cor de carvão que a criança tem que fazer nas primeiras 48hs)
2. Dificuldade de ganho de peso
3. Sangramento nas fezes
4. Sintomas de outros órgãos além do trato gastrointestinal (exemplo - neurológico, com atraso de marcos de desenvolvimento - atraso para andar, pouco tônus muscular)
5. Distensão abdominal e massas palpáveis no abdome
6. Diarreia intermitente intercalada com a constipação
7. Vômitos (principalmente biliosos – aqueles amarelos esverdeados)
8. Febre intermitente
Então agora você e seu médico detectaram que seu filho tem constipação funcional, sem nenhum sinal de alerta. O que fazer?
Iniciar o tratamento e saber que ele pode ser longo e necessitar de muitas mudanças na rotina do paciente e da própria família.
O primeiro passo é retirar todo o excesso de fezes acumulada. Depois fazer um tratamento que evite que volte a se ter acúmulo. Este tratamento que consiste em desimpactação e manutenção é o médico que vai conduzir, podendo indicar medicação mais correta para cada caso.
Mas há coisas que devem ser implementadas pela criança e pela família:
1. Treino do banheiro. O melhor momento para treinar o banheiro é depois de uma grande refeição (almoço e janta). Certifique-se que a criança esteja segura e confortável no vaso (com redutor e apoio dos pés)
2. Se a criança está constipada e está na transição das fraldas para o vaso e está muito confusa, consulte seu médico. Pode ser necessário que este desfralde seja adiado.
3. Reforço positivo tem se mostrado um bom auxílio. Faça calendários onde a criança possa pintar ou colar uma figurinha nos dias que conseguiu evacuar. E leve para o médico na consulta tanto para mostrar a evolução quanto para ganhar um parabéns.
4. Dieta restritivas não se mostram eficazes no tratamento de constipação. O ideal é manter dieta balanceada, rica em frutas verduras e grãos. A restrição se indica em situações como doença celíaca, onde o glúten tem um papel na gênese da doença e da constipação.
5. Estimule o consumo de água.
6. Evite excesso de leite de vaca na dieta da criança
Meu filho pode se tornar dependente de medicação? Medicação vicia?
As medicações usadas no auxílio do tratamento da constipação na infância não têm mostrado parefeitos e vício a longo prazo. Muitas vezes a criança não consegue parar o medicamento porque alguma coisa falhou: não se hidrata, não come bem, não treina banheiro ou tentou parar o tratamento por conta antes do tempo.
O tratamento consiste em quebrar o ciclo - dor e medo de evacuar levando a retenção.
A mensagem que fica então é: Toda criança constipada, com ou sem sinais de alerta, deve ser encaminhada a tratamento para evitar a cronificação da constipação. Constipação fisiológica e constipação associada a doença tem tratamento e podem ser resolvidas.
Um abraço, Dra. Mirella
Fonte: J Pediatr Gastroenterol Nutr, Vol. 43, No. 3 - Consenso de constipação