Cólica, uma das FGIDs.Você sabe o que é uma FGID?
A cólica do lactente hoje entra na classificação de um grupo conhecido como FGIDs. Neste grupo, os sintomas são funcionais e reais, mas sem associação com alterações anatômicas ou bioquímicas. Conhecer bem uma FGID e usar corretamente os critérios diagnósticos (no caso o ROMA IV), reduz a possibilidade de realização de exames invasivos e de alto custo. Em todo o mundo o diagnóstico de FGID é um desafio, pois é muito difícil uma família aceitar diagnósticos sem exames complementares.
Mas o que causa a cólica do lactente?
Cólica do lactente é um fenômeno que afeta 20% dos lactentes. Desde os primórdios se acreditava que a patologia fosse dor abdominal. Hoje a gênese da cólica pode ser muito mais complexa do que isso! Há estudos que relatam correlação com ansiedade parental, outros com desequilíbrio de flora intestinal, outros com maior precursores de citocinas pró inflamatórias. Há ainda estudiosos que acreditam que não há uma gênese de dor e sim uma “curva de choro”. Nesta curva, uma criança normal começa a chorar logo após o nascimento, atinge um pico por volta de 5 a 6 semanas e depois entra num declínio até 3meses. No entanto, doenças associadas à cólica do lactente foram achadas em menos de 5% das crianças com esta manifestação. Logo, mesmo sem saber a etiologia, o importante é saber quem em 95% dos casos não há doença!
Como é a cólica do lactente?
A cólica do lactente tem um caráter transitório. Costuma aparecer na segunda semana de vida e desaparecer por volta do quarto mês. As crises de choro acontecem por volta de 3horas ao dia, por pelo menos 3x na semana. É mais comum acontecer no final da tarde ou início da noite (pico das 19 às 23hs). Além do choro a criança pode apresentar irritabilidade, se contorcer, ficar pletórica (vermelha) e soltar gases.
Quando suspeitar que o bebê possa ter uma cólica que não seja normal?
Quando há algum sinal de alarme associado, a saber: perda de peso, vômitos dolorosos, diarreia, sangue nas fezes, dermatites, dor que acontece muito mais que 3hs ao dia. Nestes casos, procure seu pediatra para avaliar as características da cólica e a possível associação com doença.
Como tratar?
Até o presente momento não há nenhum tratamento bom o suficiente. Vamos falar um pouco de cada tratamento – dieta que tem se visto usar na prática!
Simeticona e outros espasmódicos
O uso desta classe de medicamento é comparado ao placebo, sem grandes impactos no manejo da cólica.
Terapia Herbal
Há um número grande de medicações com a promessa de que tudo que é a base de ervas é natural e sem risco. Ledo engano! Há registro de atraso de desenvolvimento com fórmulas à base de illicium verum. Não há evidências científicas que suportem o uso desta classe de medicação!
Dieta isenta de proteína do leite
Muito se discute sobre o papel da proteína do leite na gênese da cólica do lactente. Mas quando se vai ver quem tem mais cólica, as incidências são semelhantes em quem mama no peito e quem toma fórmula. Os estudos que tentaram comprovar a redução de cólica com restrição de leite não dão suporte atualmente para esta indicação e muitos colocavam a soja como uma alternativa, que hoje sabemos que não deve ser usada antes dos 6meses. Logo, não se indica a restrição de leite na cólica do lactente.
Leites zero lactose ou enzimas lactase para bebês amamentados
Não há indicação científica para nenhuma das duas abordagens.
Uso do lactobacilo L. reuteri
Há um caminho promissor quando se fala de uso de lactobacilos para um grande número de alterações de trato gastrointestinal. Mas os estudos ainda não são bem padronizados para indicar o uso de lactobacilos para todos. Numa revisão sistemática com 12 trials, 6 mostraram que houve melhora nas crises de choro dos bebês e 6 mostraram que não. Há dúvida se só funciona com quem recebe LM ou se seria bom também para quem recebe fórmula. Logo, o uso não é uma regra a todos.
Portanto, com falta de terapia boa a oferecer, a Sociedade Brasileira de Pediatria dá as seguintes dicas:
Tente manter a calma e lembre-se que as cólicas acontecem em um bebê saudável e que vão passar em poucos meses. Algumas ações podem amenizar a dor:
Ambiente tranquilo e uma música suave ajudam a relaxar mãe e filho;
Banho morno também ajuda a descontrair;
Movimentos nas pernas do bebê, como “pedalar no ar” podem auxiliar a eliminar o excesso de gases;
Massagem na barriguinha do bebê, sempre no sentido horário, mobiliza os gases;
Compressas mornas na barriguinha com toalhas felpudas passadas a ferro têm efeito analgésico (teste antes o calor da toalha em sua própria face).
Porém, o mais importante é ter paciência para acalmar o bebê, aconchegando-o no colo, barriga com barriga, ou apoiado de bruços na extensão do antebraço dos pais.
Fiquem tranquilos, esta fase vai passar!
Um abraço,
Dra. Mirella
Fonte - NASPGHAN - Treatments for Infant Colic
Revizado em dezembro de 2020